umpulaemangola

Relatos do dia-a-dia de um pula a trabalhar em Luanda.

sexta-feira, novembro 25, 2005

Hora de ponta no musseque

Na volta do Mercado de Sábado, vinhamos com a pica toda para ir direitos para a praia! Sim, pq aqui está um calor do catano! Mas devido ao camião virado, que já estava a provocar imenso trânsito, na vinda optámos por evitar a estrada principal e viemos por dentro do musseque. Má ideia.

A "estrada" por dentro do musseque é mais ou menos paralela a estrada semi-marginal por onde tinhamos vindo. É uma grande avenida. mas o piso é 500 vezes pior que em portugal. E tinha chovido! Como todas as grandes avenidas tem várias faixas de rodagem.

Só que estas faixas são meramente conceptuais. E isto cria um grave problema quando os conceitos variam de condutor para condutor. E se variam!!!!
Quero com isto dizer que ultrapassamos, fomos ultrapassados, cruzamo-nos e circulamos indiscriminadamente pela esquerda e pela direita. Um verdadeiro bacanal automobilistico.

A circular vê-se de tudo. Carros novos e velhos (e muito velhos também). Utilitários e luxuosos. Jipes pick-ups e afins. Kandongueiros, muitos kandongueiros! camionetes, camiões, motas chinesas e japonesas... é escolher!

Nas bermas, passeios e transversais desta avenida a confusão não é menor. A todo o momento ha algum vendedor junto a janela do nosso carro. Pequenos ajuntamentos de vendedores improvisam mercados no chão, quarteirão-sim, quarteirão-sim.

"Do alto" da sua Toyota Hiace azul e branca decrepita (mas a andar) um Kandogueiro pergunta, com ar de desaprovação, se "o carro não é para lavar?" Armazens enormes vendem produtos a granel.

"Entre feia e saia bonita" é o mote dos inúmeros salões de beleza, em geral flanqueados por sucessivas Agencias Funerarias. (cheguei a contar mais de 5 seguidas)
Agencia funeraria é de longe o negócio que mais establecimentos tem. O sábado de manhã é tradicionalmente consagrado as compras semanais pelos angolanos, por isso o musseque parece um autentico formigueiro.

Ao fim de cerca de uma hora de intensa actividade estamos a entrar na cidade de novo. 20 minutos depois ja tinha bebido uma Cuca fresquinha e estava a banhar-me no Atlantico sul.

quarta-feira, novembro 23, 2005

Nº de Visitas


É sempre bom assinalar!

Sábado

Sábado acordei cedo. Para ir ao... Mercado de Sábado. o Mercado de Sábado fica fora da cidade, para norte e para o interior, para lá do musseque, numa região chamada Cacuaco. Penso que serão cerca de 20-30 kms depois de sair da cidade.
Objectivo: preparar uma almoçarada de bela Feijoada à Portuguesa, para o aniversário de um colega.

Queriamos ir comprar verduras e fruta, com um preço e qualidade bem melhor que nos supermercados da cidade, onde os preços são bastante altos. Saimos pelas 7:30 em direcção a norte pela zona do porto de Luanda. Aos poucos a paisagem vai mudando. A estrada, apesar de muito movimentada, degrada-se. Os predios e os edificios mais altos do centro vão dando lugar a armazéns e ruinas de armazéns do que ja foi um porto em pleno funcionamento. Nas encostas proximas começa a ver-se o inicio do musseque

O musseque é o suburbio. Aos meus olhos é um bairro de lata. Mas a sua dimensão e densidade, fazem dele a regra. Não é um bairro. Faz parte da cidade.

Passados alguns quilometros ficamos parados no transito. Mais a frente, numa rua transversal, um camião cisterna capotou. É o segundo camião que vejo virado numa semana. A mania de ficar a ver os acidentes empatando o trânsito não é só em Portugal.


Ao prosseguir viagem, vamos saindo do musseque e entrando numa região, que, à falta de melhor comparação, se assemelha ao Alentejo (se trocarmos os sobreiros por embondeiros). A população desta região deve ser constituida sobretudo por agricultores. Viramos para a Terra Verde e chegamos ao Mercado de Sábado.

Ao aproximar o carro algumas dezenas de miúdos correm ao nosso encontro. "O da camisola rosa ganhou! Fico com este." Foi o primeiro a tocar no carro. Os miúdos trazem sacos de plástico (made in china) para vender e oferecem os seus serviços como "carregadores". O preço: 100Kz. Alguns são ainda muito pequenos e duvido que possam carregar 2 sacos cheios de batata-doce ou mamão. Estão sujitos, mas parecem bem alimentados e sorriem. Continuam a insistir para os aceitarmos como carregadores. Na camisola de um dos mais pequenos lê-se: "Quero beijo na boca!"

O Mercado em si é apenas um descampado com um ajuntamento de vendedores que dispõem os produtos no chão ou em cima de mantas. não há bancas ou qualquer tipo de expositor. Contudo está mais bem organizado que o aspecto deixaria antever. Os primeiros vendedores são idênticos ao comum vendedor de quinquilharias e afins. Há também uma versão angolana da típica roulote da cassete pirata tão comum nas nossa feiras tradicionais. Mas em vez de "Ruth Marlene" ou "Quim Barreiros" vendem "Manimbé, o rei da Kizomba", "Bangão" ou "Caló Pascoal". Tal como nas nossas feiras, tem o som a debitar bem alto e fornecem a banda sonora indicada para o momento.

Sempre com os miudos em redor a pedir kumbu, vamos para zona das verduras e fruta. Acho que somos os unicos pulas, e mesmo das poucas pessoas da cidade. Compramos feijão, quiabo, batata-doce, mamão, manga, etc... Os preços não são negociados mas são baixos. As vendedoras com os bébés amarrados às costas, de um modo geral não têm troco, pois estão a começar as vendas do dia e ainda não receberam dinheiro nenhum. Com uma nota de 1000Kz já é dificil conseguir troco. Mesmo assim vendem fiado, com a promessa de voltarmos daí a pouco com dinheiro miúdo.

Os nossos carregadores são uma ajuda preciosa para voltarmos a dar com as vendedoras credoras ou para indicar onde há este ou aquele artigo a bom preço. Eu sou promovido a carregador também, afinal os sacos pesam mesmo! Há sempre alguém a oferecer qualquer coisa para vender, mas sempre sem pressionar. Basta dizer "Não, obrigado!" ou "Já comprei" que seguem logo à procura de outro cliente, sempre com boa disposição. São 8:30 o ar está quente e sente-se o cheiro a fruta e legumes frescos. Depois de comprarmos uns 5 ou 6 sacos cheios, gastámos apenas 3600Kz. Voltamos ao carro ainda seguidos de alguns pequenos que tentam vender alho e jindungo. Enchemos a mala e regressamos com os putos a dizer adeus. (Não ha fotos do mercado porque a mente brilhante que escreveu isto se esqueceu de mudar a bateria da máquina...)

Parabéns

Parabéns para o meu Kambinha mais novo!!
Juizo nessa cabecita e muito divertimento é o que te desejo!
Daqui a uns dias ja estamos a buber umas destas!

terça-feira, novembro 22, 2005

Ontem

Esteve um dia feio, com muito trânsito e choveu (pudera! eu ia correr...)


(Rua Cmdt.Che Guevara onde temos uma casa)

Mas para o fim do dia o tempo melhorou e durante a sessão de corrida tudo estava calmo, embora não houvesse luz na zona do porto.

segunda-feira, novembro 21, 2005

Preço da gasolina

(...e não o preço da "gasosa" que esse é muito variável!)

Penso que está por volta dos 30Kz (~ 0.30€)

Assim se explica que haja ai na boa jipes com motores de 5l a gasolina.

sexta-feira, novembro 18, 2005

Correr

Terça-Feira fui correr pelo calçadão da marginal, actividade que muito me agradou. Por um lado fiquei satisfeito por poder manter um vício que a minha Margarida me pegou e continuar em forma, agora que interrompi as futeboladas e as corridas no Estádio Universitário. Por outro permite-me contemplar a vista da cidade no lusco-fusco ("são 5-7 minutos!") que é bestial. É ainda uma forma de viver e interiorizar a cidade, ver pessoas, sentir o calor, as cores, os ruídos, os cheiros (e quando a maré na baía está baixa...que cheiros!!!!)

Dizia eu que terca-feira fui correr e choveu. Uma daquelas chuvas à portuguesa, tão incaracteristicas destas paragens. A chamada chuva "molha-parvos".

E eu molhei-me!

Nada do outro mundo. Com o calor sequei num instante.

Ontei fui de novo correr. De novo contemplei a cidade (e, ou a maré não estava muito baixa, ou começo a perder sensibilidade). E de novo choveu. E bem!

Começei por ouvir o "ruido-branco" dos pingos a bater fortemente, que se aproximava por trás. Nas luzes dos carros que passavam e nas águas da baia já se viam as gotas a cair. Em todas as direcções à minha volta chovia a cântaros mas naquela pequena área onde eu e mais algumas pessoas estavamos tudo continuava seco como dantes.

O milagre durou pouco e em menos de nada estavamos molhados até aos ossos. Na volta para casa, os putos tomavam duche, e as nas ruas já corriam rios enlameados, bem à Portuguesa. (Há "costumes" que nem com 30 anos de independencia se perdem).

Estava a pensar voltar a correr na segunda-feira, mas assim já não sei!

quinta-feira, novembro 17, 2005

"Dááá-meee Gasoliiiinaaa!"

A fila para meter gasolina, por vezes está assim...



...outras vezes está maior!

Trânsito

Na vinda do aeroporto, e depois de me ter instalado confortavelmente dentro do Getz juntamente com os meus 3 colegas, o retrovisor, e as bagagens de todos, comecei a tomar consciencia de uma das caracteristicas mais marcantes de Luanda. O Transito.

Sou um condutor com uma experiencia aceitavel: Tenho carta vai para 10 anos e com um curriculo irrepriensivel (ou quase...) Conduzo em Lisboa. Já me aventurei algumas vezes no Porto, e até mesmo em Espanha. Já andei de carro com o madeirense e estou vivo. Já vi como se conduz em paises como Italia, México ou Egipto. Julgo porém que os Angolanos são os melhores condutores do mundo. Valem-se apenas de 5 simples regras:

1. Não deixar passar ninguem. A regra da prioridade a direita é para respeitar. Não interessa se vem pela esquerda um camião desembestado ou se vamos bloquerar o cruzamento mais movimentado da cidade. É entrar e mais nada. os outros que esperem!

2. O Sinaleiro é como o centro de mesa. Está lá no meio, mas só serve para enfeitar. É uma figura decorativa para turista ver. Quando ele manda parar, significa que os proximos 5 (ou mais...) devem passar.
2.a) É aceitavel contornar o sinaleiro pela esquerda quando necessário. ...e aconselhavel ignorar os seus apitos e sair da zona antes que venham as motas da Policia.

3. A estrada é para os carros (e para as Toyotas Hiace).
3.a) O peão tem prioridade negativa.
3.b) Os peoes sobre o alcatrão (ou algo semelhante) tornam-se invisiveis.

4. Não são passadeiras. Não confundir as riscas brancas pintadas no chão com as tradicionais passadeiras. Os riscos brancos indicam apenas uma area onde o condutor tem de ter maior percaução pois é uma área onde há maior concentração de peoes (embora o condutor nao os veja pois estão invisiveis). É prudente manter a velocidade (ou até aumentar) e a trajectória para evitar que os veiculos que nos seguem nos abalroem.

5. Usar a buzina é divertido.

Por isso não é preciso carta.

terça-feira, novembro 15, 2005

A chegada do Comandante


Eram aproximadamente 19:30 quando cheguei.
Do avião avistam-se as luzes da cidade, que parecem tenues e com uma disposição irregular. "Optimo! pelo menos temos electricidade!" comenta o passageiro que viajava ao meu lado.

Exteriormente o aeroporto também parece relativamente mal iluminado comparativamente com o que estava habituado. À saida do autocarro que fez o transbordo desde o avião, toda a gente corre para as formalidades de desembarque (Boletim de Vacinas e Passaporte) que são algo demoradas. A comprovação da vacina contra a febre amarela é feita por um funcionario de bata branca à enfermeiro sem um braço. Depois é a fila para verificar os passaportes e visto.

Durante este tempo no Q.G. dos mosquitos deve ter soado o alarme. "Pulas fresquinhos!". Apesar do A/C o calor é abafante e os enxames crescem. (se estiver de cama prá semana será normal...)

Chega a minha vez e avanço. "É a primeira vez em Angola?" Devo ter um carimbo na testa! Perguntas sobre o que venho fazer e siga. Estou oficialmente em território Angolano.

O tapete rolante para a recepção das malas é minusculo. Acabei de chegar num A340 lotado. As pessoas amontoam-se em volta deste. Chego-me um pouco mais à frente para tentar ver a minha mala. "Com licença!" Uma senhora tenta meter um 4º carrinho das malas mesmo junto ao tapete ao lado dos 3 que já tinha ido buscar. Espero. Começam a tombar malas do tapete por excesso. Espero. O calor aumenta. Espero. algumas pessoas recebem as malas e novas pessoas se metem com os carrinhos a minha frente. Espero. Um funcionario junta as malas que vão caindo, no centro, no meio do tapete. Espero. Se calhar vou ter que viver por uns tempos com esta T-shirt e cuecas suadas. Espero. No tapete passam uns frascos de gel de banho e champô. Espero. Um homem recolhe o que parece um destroço de algum tipo, com uma etiqueta de "Fragil". Espero. Mas eis que lá vem ela, fechada e inteira. Continuo com 100% de aproveitamento :-)

À saida, no controlo de bagagem, ninguem me pede para verificar a mala, por isso não tenho que responder a perguntas embaraçosas sobre o espelho retrovisor.

Já a sair para a rua um colega avisa-me: "A partir daqui ninguem mais toca nas malas!" Está um calor incrivel e há montes de miudos na rua a oferecer-se para ajudar com as malas em troca de "uma daquelas moedas brilhantes de euros, Comandante".