umpulaemangola

Relatos do dia-a-dia de um pula a trabalhar em Luanda.

quarta-feira, novembro 23, 2005

Sábado

Sábado acordei cedo. Para ir ao... Mercado de Sábado. o Mercado de Sábado fica fora da cidade, para norte e para o interior, para lá do musseque, numa região chamada Cacuaco. Penso que serão cerca de 20-30 kms depois de sair da cidade.
Objectivo: preparar uma almoçarada de bela Feijoada à Portuguesa, para o aniversário de um colega.

Queriamos ir comprar verduras e fruta, com um preço e qualidade bem melhor que nos supermercados da cidade, onde os preços são bastante altos. Saimos pelas 7:30 em direcção a norte pela zona do porto de Luanda. Aos poucos a paisagem vai mudando. A estrada, apesar de muito movimentada, degrada-se. Os predios e os edificios mais altos do centro vão dando lugar a armazéns e ruinas de armazéns do que ja foi um porto em pleno funcionamento. Nas encostas proximas começa a ver-se o inicio do musseque

O musseque é o suburbio. Aos meus olhos é um bairro de lata. Mas a sua dimensão e densidade, fazem dele a regra. Não é um bairro. Faz parte da cidade.

Passados alguns quilometros ficamos parados no transito. Mais a frente, numa rua transversal, um camião cisterna capotou. É o segundo camião que vejo virado numa semana. A mania de ficar a ver os acidentes empatando o trânsito não é só em Portugal.


Ao prosseguir viagem, vamos saindo do musseque e entrando numa região, que, à falta de melhor comparação, se assemelha ao Alentejo (se trocarmos os sobreiros por embondeiros). A população desta região deve ser constituida sobretudo por agricultores. Viramos para a Terra Verde e chegamos ao Mercado de Sábado.

Ao aproximar o carro algumas dezenas de miúdos correm ao nosso encontro. "O da camisola rosa ganhou! Fico com este." Foi o primeiro a tocar no carro. Os miúdos trazem sacos de plástico (made in china) para vender e oferecem os seus serviços como "carregadores". O preço: 100Kz. Alguns são ainda muito pequenos e duvido que possam carregar 2 sacos cheios de batata-doce ou mamão. Estão sujitos, mas parecem bem alimentados e sorriem. Continuam a insistir para os aceitarmos como carregadores. Na camisola de um dos mais pequenos lê-se: "Quero beijo na boca!"

O Mercado em si é apenas um descampado com um ajuntamento de vendedores que dispõem os produtos no chão ou em cima de mantas. não há bancas ou qualquer tipo de expositor. Contudo está mais bem organizado que o aspecto deixaria antever. Os primeiros vendedores são idênticos ao comum vendedor de quinquilharias e afins. Há também uma versão angolana da típica roulote da cassete pirata tão comum nas nossa feiras tradicionais. Mas em vez de "Ruth Marlene" ou "Quim Barreiros" vendem "Manimbé, o rei da Kizomba", "Bangão" ou "Caló Pascoal". Tal como nas nossas feiras, tem o som a debitar bem alto e fornecem a banda sonora indicada para o momento.

Sempre com os miudos em redor a pedir kumbu, vamos para zona das verduras e fruta. Acho que somos os unicos pulas, e mesmo das poucas pessoas da cidade. Compramos feijão, quiabo, batata-doce, mamão, manga, etc... Os preços não são negociados mas são baixos. As vendedoras com os bébés amarrados às costas, de um modo geral não têm troco, pois estão a começar as vendas do dia e ainda não receberam dinheiro nenhum. Com uma nota de 1000Kz já é dificil conseguir troco. Mesmo assim vendem fiado, com a promessa de voltarmos daí a pouco com dinheiro miúdo.

Os nossos carregadores são uma ajuda preciosa para voltarmos a dar com as vendedoras credoras ou para indicar onde há este ou aquele artigo a bom preço. Eu sou promovido a carregador também, afinal os sacos pesam mesmo! Há sempre alguém a oferecer qualquer coisa para vender, mas sempre sem pressionar. Basta dizer "Não, obrigado!" ou "Já comprei" que seguem logo à procura de outro cliente, sempre com boa disposição. São 8:30 o ar está quente e sente-se o cheiro a fruta e legumes frescos. Depois de comprarmos uns 5 ou 6 sacos cheios, gastámos apenas 3600Kz. Voltamos ao carro ainda seguidos de alguns pequenos que tentam vender alho e jindungo. Enchemos a mala e regressamos com os putos a dizer adeus. (Não ha fotos do mercado porque a mente brilhante que escreveu isto se esqueceu de mudar a bateria da máquina...)

3 Comments:

At 4:44 da tarde, Blogger Luke said...

Isso por acaso não será o mercado Roque Santeiro? É que tive a lêr uma aventura de colegas motards por Angola e referenciaram um mercado, com características similares, como sendo o maior mercado a céu aberto de Africa. E ok, agora sei que não é pois só olhei para o comentário anterior neste momento, e como isto dá trabalho a apagar vai assim mesmo....

 
At 5:16 da tarde, Blogger Father R. Filipe said...

Belo Post. Man cá para mim qd chegares a Lisboa precisas de estar 2 dias debaixo do chuveiro lololol
E gajas???

 
At 10:50 da tarde, Blogger Jingas said...

bafo, bafo, bafo...pensas tanto em gajas que as afugentas!:P

 

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