umpulaemangola

Relatos do dia-a-dia de um pula a trabalhar em Luanda.

terça-feira, abril 11, 2006

Action in Luanda III - o Regresso do Pula

Já estou quase de volta à tuga e só agora me deu para escrever. Será porque não se tem passado nada de especial? O "especial" aqui é muito relativo. Este fds por exemplo teve muitas pequenas "especialidades", o que acaba por me estimular a escrever uma crónica em que tento resumir as ultimas 4 semanas.

A viagem para cá foi completamente tipica: Grande fila para check-in e as caras habituais a tentar cravar o pula sem bagagem para que leve em seu nome as bagagens das suas filhas / sobrinhas / afilhadas / etc... é malta que viaja muito! Chegada e controle de passaportes com o normal ataque dos mosquitos.

Já cá fora, enquanto esperava junto ao carro (e agarrando bem o portátil) que a minha boleia pagasse o parque, veio um moço simpático pedir "uma ajuda para pagar um café ao chefe". "Cheguei agora", disse eu, "não tenho Kwanzas!". "Pode ser em euros ou dolares, não tem maca!" é pessoal que lida bem com divisas, pensei. "Não meu kamba, eu não trago dinheiro comigo. só me dão cá, mais tarde!" pausa... "sim, então está bem, mas prá próxima é melhor trazer, yá!?" ameaçou. Fica registado.

O alojamento, durante a 1ª semana foi no hotel. Sitio porreiro e limpo, com um A/C relativamente silencioso, mas com a falha de não ter net. E de não ter pão ao pequeno-almoço antes das 7:30. Na manhã em que fiz check-out recebi a notícia que afinal ia ficar mais uns dias no hotel. Voltei a fazer checkin no mesmo dia.

Durante este tempo, o dia-a-dia foi normalissimo. Casa-trabalho, trabalho-casa. Por vezes umas pit-stops para atestar de Cuca ou similar. O calor aperta como nunca e a humidade também. Fiz alguma praia, ganhei alguma côr, comi saladas e tenho fintado a bicharada.

Entretanto já tenho conduzido um pouco mais aqui na banda, e estou a começar a aprender algumas das preciosas técnicas angolanas de "condução defensiva", confiante de que me estou a tornar cada vez mais, num bom condutor. Pergunto-me que opinião irão ter os meus conterrâneos.

Uma das primeiras "especialidades" aconteceu à cerca de 2 semanas. Choveu. Uma daquelas chuvitas tropicais. O dia andou sempre a prometer, e o meu local de trabalho é um ponto priviligiado para observar a chegada das nuvens. mas na altura em que saí, ao fim da tarde é a que a coisa se compôs. Na marginal, olhando para trás via-se o sol e uma réstia de céu azul sobre a fortaleza. Olhando para a frente e para o lado, não se via a ilha. Alguem observou que estávamos apenas na franja da tempestade. Ainda bem, assim só apanhámos com 61 litros por m2 nessas 5h-6h em que choveu. Ora nessa tarde o meu objectivo, e dos colegas que iam comigo, era ir ao Supermercado comprar cerveja e outras porcarias para comer. Assim fizemos, estacionámos ao carro mesmo em frente ao telheiro da porta da entrada, e eu ofereci-me para ir buscar o carrinho. De caminho aproveitei para passar a camisa por água porque estava com calor. Enquanto escolhiamos a cerveja, o ruido da chuva subia, e pela janela via-se aumentar o caudal das cascatas do telhado. Depois de pagar, e chegando cá fora, os outros clientes do super não mostravam vontade de ir para casa. Como tinhamos pressa em por a cerveja no frigorifico, partimos de imediato. No caminho para o carro aproveitei para passar a camisa mais uma vez por água porque já estava seca. Arrancámos, mas estava um pouco de trânsito, e ao fim de 15 mins tinhamos conseguido sair do parque de estacionamento. 2 horas depois já tinhamos avançado aproximadamente 50 metros e começavamos a deixar de ver as bandeiras do supermercado. O que se tinha passado, é que à rotunda do eixo viário vieram cair toneladas de terra e carros avulsos, que complicaram o trânsito. Ainda acabámos por indicação policial, a fazer a rotunda "à inglesa". Á nossa volta o numero de carros atascados em lama era assinalável. Ao chegar a casa, cerca de 5kms e 3:30 horas depois, voltei a passar a camisa por água enquanto descarregava as cervejas.

No dia seguinte, os estragos causado pela "franja" da tempestade eram bem visiveis, com as ruas repletas de entulho e algumas delas semi-destruidas. Acho que já era assim no tempo colonial. Mas desde cedo trabalhavam equipas de limpeza, e tudo estava a ser limpo e reposto no seu devido lugar.

No mesmo fim-de-semana, houve outro episódio com chuva. No Chill-out, o bar mais cool da ilha, choveu durante umas horas, o que foi bom para refrescar o ambiente, que mesmo ali ao ar livre, a um passo do mar, é quente e abafado como uma sauna. Felizmente há cerveja. O pessoal refugiou-se por baixo das coberturas de cana até estas ensoparem. Alguns bifes que exageraram a beber imitação de cerveja ensaivam danças tribais de acasalamento homosexual pra entertenimento geral.

Já neste fim-de-semana os eventos sucederam-se. Vi o meu GRANDE SPORTING perder na luta pelo titulo, em casa de um amigo, no meio de uma maioria tripeira. Apesar disso na night vi muitas mais camisolas verde e brancas (inclusivé uma do Celtic) do que trapos azuis. Nesse noite o meu motto foi "beber para esquecer, Sporting até morrer" mas o raio da cerveja anda falsificada, e não esqueci nada...

Na discoteca habitual, ao contrario dos habituais videos do Ricky Martin ou Wham, estavam a dar desfiles de lingerie do Fashion TV. Um bom prenuncio para a jornada, que não veio a verificar-se, pois a meio da noite faltou a luz. Estava a passar o Billie Jean do MJ... Sabotagem?! Voce decide! Resolvi sair e ir pregar para outra freguesia.

Cá fora já tinha garantido a gasosa ao Joaquim e ao Vago. Na noite anterior em que o meu guarda tinha sido o Joaquim, tinha visto alguém a apanhar uns tabefes no chão na rua onde tinha estacionado, enquanto me pirava com o carro, e deitava ao chão o bacano que o estava a usar como apoio cervical ortopédico para repousar. O Joaquim devia ter-se juntado à festa, pois não estava por perto para receber a gasosa. Felizmente eu lembrava-me dele e infelizmente ele lembrava-se de mim. Assim neste dia paguei aos dois e acertei as contas. A coisa anda a animar... mais uns dias e vai haver pessoal a fazer baptismos de voo.

Dali fui para um spot que não conhecia. Dom Q (Q de Quixote). Mal sabia eu que o "ponto alto" da estadia ia começar nesse momento. A entrada estava uma enorme fila à angolana. Depois de alguma espera (e alguma luta) lá entrámos Como não havia cerveja, bebi carlsberg (nota negativa para a gerencia) e não sei se por influencia do veneno ou do barulho das luzes comecei a ouvir anunciar alguem importante que estava na sala VIP. Quando olhei para a mesa mesmo ao meu lado vejo um barrigas a trepar lá para cima. Bonga de seu nome. Rei Bonga estava ali ao meu lado, e pela forma como gingava, mais bebado do que eu! Cumprimentou a audiencia, saudou uns amigos, cantarolou uma musica (com grande pena minha não foi a "Mariquinha") e voltou para a sala VIP, quem sabe com melhor "ambiente".

No dia seguinte, praia matinal, que foi uma desilusão. O mar estava imundo. Ou melhor: aqui na ilha, está sempre imundo. Desta vez estava pior. assim nem saí da esplanada e aproveitei para descongestionar o sangue com umas Cucas.

A tarde reunimos com uns kambas brasucas para um "pagodjinho". Comeu-se picanha grelhada, e como a cerveja tardava em aparecer, bebi meia duzia de heinekens e afins. Houve um tipo que fez exactamente o que eu faria pelo meu Sporting. Como a TV estava a ser usada para karaoke e o gajo queria ver o seu Santos, pirou-se. Eu pelo meu lado dei "show dji bola" (or talvez não...) a batucar com os brasucas. Realmente aquilo está-lhes no sangue, porque eu parecia sempre o bombo da fanfarra dos bombeiros voluntários. Enchi-me de picanha, mas entertanto surgiram umas SuperBocks que me ajudaram com a digestão. Ainda tentei gingar um pouco de capoeira, mas só me saía ura mawashis, e conclui que me devia dedicar a pesca.

Falta apenas a conversa de merda: Tenho andado a tornar-me num verdadeiro apreciador de funge e comidas com oléo de palma. sem esquecer que tal como alguns que já critiquei, começo a usar jindungo em tudo. não deve estar longe o dia em que vou para uma sardinhada ou para um jantar de nouvelle cuisine com um frasquinho do dito. Tudo isto para dizer que apesar dos excessos me ando a aguentar a bronca, firme e hirto, enquanto alguns colegas estão batidos na clinica com variados problemas do foro gastro-intestinal ou similar.

Em breve estou de volta, e só espero que o avião não atrase 12h como tem sido hábito.